GIROLANDO
Origem e evolução
A origem do primeiro Girolando não dista muito no tempo. As primeiras notícias do surgimento desses animais data-se da década de 1940.
Pelos anseios dos criadores brasileiros, começaram a buscar no cruzamento do Gir com o Holandês a combinação de rusticidade e produtividade, elementos indispensáveis para produção de leite a pasto no clima tropical.
A multiplicação desses animais, mesmo desordenadamente, foi acelerada (pela alta produtividade e eficiência reprodutiva).
Atualmente encontramos o Girolando em todos os Estados da Federação.
Certificando-se disso, em 1989 o Ministério da Agricultura, juntamente com as Associações representativas foram traçadas as normas para formação do Girolando – Gado Leiteiro Tropical (5/8 Hol + 3/8 Gir Bi Mestiço), transformando-o em prioridade nacional.
E a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, com sede na pioneira cidade de Uberaba, Minas Gerais, por sua estrutura física e administrativa, e pelo trabalho sério e eficaz durante os dez anos de Procruza, programa que antecedeu o Girolando, foi dignificada para comandar e executar as normas para formação da raça Bovina Girolando.
Objetivos
A formação da raça bovina Girolando, a princípio teve por objetivo a criação de um grupamento étnico brasileiro capaz de produzir leite, em sistema produtivo economicamente viável, nas condições tropicais e subtropicais.
As normas para formação da raça Girolando, elaboradas em 1989, introduziram, à época, uma forma planejada de formação de “raça” bovina. Isto permitiu trabalhar com parâmetros objetivos, proporcionando mais probabilidade de acerto, diminuir o tempo gasto no atingimento da meta e fornecer maior segurança ao investimento financeiro dos criadores engajados no programa.
Visando a fixação do padrão racial, direciona-se os acasalamentos para o grau de 5/8 Hol + 3/8 Gir, objetivando um gado produtivo e padronizado.
A utilização da Heterose é a mais útil e extensiva aplicação da moderna genética, processo de resposta rápida, sendo ainda o método que pode utilizar mais intensamente as qualidades existentes nas raças puras.
Geralmente, o nível de resposta do vigor híbrido é maior para os caracteres de baixa herdabilidade, e que por sua vez possuem maior valor econômico.
O Gir e o Holandês
Visando a associação das qualidades de resistência da Gir com as de produção leiteira da raça Holandesa, os criadores buscaram através desse cruzamento chegar em um animal que produzisse satisfatoriamente em regime de pastejo. Surgiu com isso, o Girolando, produto do cruzamento do Holandês com o Gir, dois pilares sólidos, passando por variados graus de sangue, do 1/4 de Holandês até o 7/8.
Dádiva da natureza, pois tal é a superioridade do Girolando, que além de ter conjugado a rusticidade do Gir e a produção do Holandês, adicionou características desejáveis das duas raças em um único biótipo, fenotipicamente soberano, com qualidades imprescindíveis para produção leiteira econômica nos trópicos, o que atualmente chamamos de Afinidade Combinatória.
Modernamente não se cogita de fazer comparações entre raças com espírito competitivo, mas trabalhar de maneira a buscar as qualidades que cada uma possa oferecer, em diferentes ambientes, para que se complementem com mais eficácia econômica.
Estratégias de cruzamentos
Identificação racial dos graus de sangue
A raça é fundamentalmente produto do cruzamento do Holandês com o Gir, passando por variados graus de sangue, direciona-se visando a fixação do padrão racial, no grau de 5/8 hol + 3/8 gir, objetivando um gado produtivo e padronizado.
Poderão ser utilizadas quaisquer combinações de cruzamentos entre as raças Gir e Holandesa, ou seus mestiços, para a formação do grupamento com composição racial entre 4,5/8 de Holandês + 3,5/8 de Gir (9/l6) e 5,5/8 de Holandês + 2,5/8 de gir (11/16).
Para ser registrado como PS – Puro Sintético da ‘RAÇA BOVINA GIROLANDO’, como primeiro requisito, o animal deverá ser Bi-mestiço 5/8, ou seja, produto do cruzamento de animais com composição racial entre 4,5/8 de Holandês + 3,5/8 de Gir (9/l6) e 5,5/8 de Holandês + 2,5/8 de gir (11/16).
Conhecer bem as características raciais e morfológicas, identificar as qualidades de um animal, bem como suas deficiências, fazendo uma classificação do que precisa ser melhorado naquele animal: esse é o pulo do gato no acasalamento dirigido. Através de uma escolha feliz, o criador potencializará o resultado.
Como princípio básico, para se conhecer bem uma vaca Girolando, é preciso ter uma profunda noção das características morfológicas de suas raças formadoras: o Gir e o Holandês. As características do Girolando são provenientes da mistura e interação das características do Gir e Holandês, ou seja, da proporção que cada uma delas entra compondo o Girolando. Partindo desse princípio, a primeira regra é a seguinte:
1) Nunca tire conclusão sobre o grau de sangue de um animal, somente por determinada característica. Vou dar um exemplo: não é porque uma vaca é “umbiguda” ou “barbeluda” que ela tem que ser 1/2 sangue. Ou porque tem orelha mais curta que tem que ser 3/4. “É o conjunto de características que vão determinar com precisão, o grau de sangue do animal”. – Não se esqueçam disso!
2) Para tornar mais simples a análise e traçar um roteiro para facilitar a vida do criador, vamos adotar o seguinte:
a) sempre começar analisando o animal pela cabeça, em seguida o pescoço e a barbela. Depois passamos para a parte posterior do corpo: garupa, vulva e calda e finalizando nossa análise, o umbigo. Com certeza, teremos um conjunto de informações que darão um bom indicativo do grau de sangue do animal.
Cabeça
a cabeça é particularmente quem carrega a expressão racial e se o animal está ou não bem definido racialmente. Na cabeça devemos observar o perfil, visto lateralmente, o formato dos olhos e as orelhas, vistas de frente, seu tamanho, formato e posicionamento em relação aos olhos;
- b) Na figura abaixo, vista de lado, verificamos que o perfil típico da 1/2 sangue é sub-convexo, o da 5/8 é tipicamente retilíneo e o da 3/4 é sub-côncavo, pois tem uma ligeira depressão na região da fronte. Uma regrinha para entender esta terminologia é a seguinte:
– a 1/2 sangue tem 50% de sangue Gir/Holandês = sub-convexo;
– a 3/4 tem 75% de Holandês = sub-côncavo;
– a 5/8 possui 62,5% de Holandês, ou seja, está exatamente entre a 1/2 sangue e a 3/4. Misturando sub-convexo (1/2) com o sub-côncavo (3/4) vamos obter o perfil retilíneo (5/8).
Ainda nessa figura, com esta visão lateral da cabeça, devemos observar os olhos dos animais, outra característica que nos auxilia na diferenciação do grau de sangue. Normalmente a 1/2 sangue tem olhos elípticos com a presença de rugas em sua parte superior, herança herdada da raça Gir, enquanto que a 3/4, possui olhos arredondados e ligeiramente saltados da caixa craniana, característica mais típica das vacas holandesas. Como as 5/8 são intermediárias, encontramos olhos médios em sua forma e saliência.
Na próxima figura, visualizamos a cabeça de frente, e observamos as orelhas, seu formato, tamanho, posicionamento e direcionamento em relação aos olhos.
Pescoço
Na parte superior do pescoço, que inicia-se na nuca e prossegue até a região da paleta do animal, encontramos a coluna cervical, recoberta pela musculatura rombóide (garrote) e no terço final do pescoço, a região que no gado de leite, chamamos de cruz, formada pelas escápulas (ossos da paleta ou espáduas).
Tipicamente nesta região, encontramos o cupim dos zebuínos, que é o desenvolvimento acentuado da musculatura rombóide e seus adjacentes, diferença marcante para o gado holandês, onde normalmente esta região é bem descarnada e aguda.
Guardando as devidas proporções, a regra segue o mesmo padrão da cabeça: quanto maior o grau de sangue de holandês do animal, como é o caso do 3/4, a característica tende a assemelhar-se a raça holandesa, ou seja, mais descarnada e triangular. Já a 1/2 sangue, nota-se a musculatura rombóide um pouquinho mais desenvolvida, pela maior presença de sangue gir, e a 5/8 com formato intermediário, como podemos visualizar na figura abaixo.
Evidentemente, que se formos avaliar a caracterização leiteira de uma vaca, é preferível que esta região seja mais descarnada, bem triangulada, sem excesso de cobertura muscular, com o pescoço alto, forte e bem inserido à cabeça e harmoniosamente implantado ao tórax, em qualquer um dos graus de sangue.
Ainda no pescoço, temos na parte inferior, a região que chamamos de barbela, que no gir, normalmente é bem desenvolvida, pregueada, com a courama bem solta; e na holandesa, é bem reduzida, sem pregas, lisa, praticamente inexistente.
A barbela da 1/2 sangue é típica, mais evidente, pela maior presença de sangue gir, iniciando-se na região do beiço do animal, o couro um pouco mais grosso, com a presença de pregas.
Já a 3/4, como podemos ver, é reduzida e lisa, iniciando-se na porção média do pescoço. Nas 5/8, é ligeiramente reduzida e menos pregueada em relação às 1/2 sangue.
Garupa
A garupa é uma região limitada pelo lombo a frente, a cauda atrás, e abaixo as coxas, tendo como base anatômica os coxais, além do osso sacro.
O osso sacro é formado por 5 vértebras sacrais soldadas, portanto formando uma única peça. O sacro, quando muito saliente, em geral corresponde a garupa inclinada e escorrida lateralmente (cortante), o que constitui grave defeito.
Mas, “nem tanto ao céu, nem tanto a terra”, pois a garupa muito plana, com os ísquios mais altos (atrás) que os íleos (frente), o que chamamos de garupa invertida, também não é desejável, pois isto dificultará o parto e a expulsão dos restos placentários. O desejável é que a garupa tenha uma ligeira inclinação no sentido íleo-ísquio, variando de acordo com cada raça (na raça Holandesa em torno de 4 cm.).
Na parte anterior da garupa, existem duas saliências laterais, normalmente bem definidas, que são as ancas ou extremidades ilíacas, e na parte posterior encontramos as duas extremidades isquiáticas, chamadas de ponta da nádega. Ligando estes quatro pontos, a figura formada deve se aproximar da forma quadrada, com ligeiro estreitamento no sentido antero-posterior, ou seja, menor largura na região dos ísquios em relação a maior largura entre os ílios.
Outro detalhe em termos de qualidade da garupa, é que juntamente com o lombo, o dorso e a cernelha devem estar no mesmo plano, sendo que nas fêmeas deve ser analisada cuidadosamente, pois a garupa, além de armazenar os órgãos reprodutivos é chamada de “teto do úbere”, determinando sua altura, largura e amplitude.
A inclinação da garupa é uma diferença racial típica entre as raças Gir e Holandesa, sendo que na primeira a garupa é inclinada e na segunda é praticamente nivelada.
Na prática, concluímos que, quanto maior for a proporção de sangue holandês no animal, mais nivelada vai ser a garupa, esta é a tendência natural quando cruzamos as duas, ou o inverso: quanto mais inclinada, maior é a presença de sangue gir no animal.
Mostramos na Figura abaixo, as diferentes inclinações da garupa entre uma 1/2 sangue, 5/8 e 3/4, na seguinte ordem: a inclinação da 1/2 sangue é maior e mais evidente, pela presença de mais sangue Gir, a 5/8 tem uma garupa intermediária menos inclinada em relação a 1/2 sangue, e a 3/4, já com 75% de sangue holandês, tem uma garupa mais nivelada, bem mais plana em relação às outras duas.